Um novo paradigma para a escrita
Segundo o dicionário, escrever é "representar (língua, pensamentos) por sinais gráficos".
A definição corrobora com minha percepção: julgo que a escrita é um link direto para o estado cognitivo e emocional de uma pessoa ... e o melhor de tudo, assíncrono.
Como pode então estar caindo em desuso?
Falo por experiência própria. Adoro escrever, mas fazia anos que não escrevia tal como tenho feito neste espaço. Por quê? Boa pergunta... coisas da vida moderna e de adulto (tem uma pergunta que eu sempre quis fazer aos meus professores de português: Quando foi que escreveram a última redação? )
É maravilhoso perceber que quanto mais escrevo, mais aprendo. Sempre foi assim (desde o tempo das colas na escola - colas que, em sua maioria, depois de minuciosamente preparadas acabavam nem sendo utilizadas).
Ao meu ver seria magnífico as escolas usarem extensivamente a escrita e a criação como avaliação! Isto é algo muito muito estimulante (e sim, considero que poderia ser muito estimulante para todos, desde que trabalhado adequadamente). Até onde sei, o construtivismo carrega isto em sua essência.
Acredito que esta não é uma idéia nova ... julgo que foi assim que tudo surgiu. Não sou um estudioso, mas arrisco a dizer que muito provavelmente, em algum momento do passado, alguém percebeu que era necessário tornar tudo "menos escrito" para massificar o ensino. Vieram as questões objetivas para massificar as avaliações. Inventaram a pós-graduação para poder massificar o mestrado e doutorado (sem ser necessária a tese, basta estar de corpo presente - e bem parecido com a escola e faculdade. Pelo menos, neste caso, trocaram o nome).
Para não regredirmos (ter menos pessoas com acesso a educação), ou teríamos que multiplicar os professores (e depois enfrentar o problema do despreparo dos mesmo), ou criar uma criar algo novo conceitualmente. Temos o construtivismo que vem enfrentando este dilema, pois busca suprir as necessidades sistêmicas do aprendizado, sem todavia conseguir ganhar espaço (necessita da multiplicação do número de professores e na qualidade dos mesmos. O que estamos vendo acontecer é a elaboração de um Construtivismo Frankstein, com objetivos puramente na área comercial e de marketing, que acabam piorando ainda mais a situação dos alunos, que ficam desasistidos e mais perdidos que cego em tiroteio).
Os exemplos de avaliação baseada na escrita que temos hoje, para mim, são mais contra-exemplos que do qualquer outra coisa. Para falar rapidamente: um sistema equivalente ao utilizado para o mestrado e o doutorado, além de tolhir o pensamento, faz com que o conhecimento seja especializado; a disciplina de português olha os acentos, pontuação e coerência - muitas vezes a coerência é deixada de lado; questões descritivas são pontuais e normalmente exigem um simples "copy & paste" mental da resposta do livro/caderno/quadro; etc.
A deficiência na "escrita" passar de forma desapercebida/complacente pelos professores é algo que tem consequências graves para o futuro destas pessoas e da comunidade (prefiro comunidade que sociedade, é mais intimista). Eu poderia fazer uma tese que existe correlação positiva entre "saber escrever" e a consciência, o pensamento sistêmico, a organização de idéias, a capacidade de se expressar e se fazer entender, etc... até mesmo a definição de dicionário nos mostra isto, afinal de contas, basta fazermos o caminho inverso, e da escrita chegaremos ao pensamento e a língua da pessoa.
As aspas no escrever é pelo fato que, talvez em um novo paradigma, um analfabeto possa "saber escrever". Hoje "saber escrever" esta relacionado a alfabetização e é encarado como parte dela, ou ainda, restrito a ela, deixando de lado todo o potencial que esta manifestação pode trazer, em suas mais diferentes formas. Quem irá escrever com lápis e papel ou teclado daqui 10 anos ou 20 anos? Quais serão os "sinais gráficos" que o dicionário se refere daqui 30 anos? Será que estaremos registrando tudo em voz, vídeo, hologramas, etc? Isto será "escrita"? A leitura manterá sua importância se a escrita, tal como existe hoje, vier a mudar? É justificado o peso que damos a leitura quando comparado com a escrita? Um equilibrio de importância não se faz necessário? Será que criaríamos mais se lessemos menos e escrevessemos mais? E aprenderíamos mais também? Como fica a relação de leitura e escrita em tempos de google?
Não tenho claro qual o novo paradigma, e talvez não tenha muito claro qual o paradigma a ser superado, visto que os textos saem de rompante. Ainda assim, urge fazer a escrita transcender o dicionário.
Mas julgo que chegaremos a um ainda nos "comentários" deste Post ...