segunda-feira, agosto 27, 2007

Pintura na noite

Eis a resistência. Escrever sem fazer, ler sem reagir. Estamos mal.

Por mais que vire minha vida de cabeça para baixo, inverta tudo que esteja fazendo, entregue o que é para amanhã e atrase o que era para ontem. Nada muda.

Cada pequeno detalhe irritante da nossa rotina bate de forma avassaladora na porta, janelas e frestas. A casa de palha em breve cederá. E a de madeira ou material não irão nos abrigar.

Esta insuportavelmente desgastante viver com medo, receio e cuidado. Sim, isto é um desabafo.

Desabafo de quem não tem mais paciência para tentar reinventar um mundo interior para suprir necessidades tão simples, tal como uma vida em paz neste chão.

Revoltante talvez fosse a palavra, mas não é mais. É angustiante.

Se conseguisse descrever a pintura que contemplo, teria um quadro de 4 metros de altura por não mais que 1.5 de largura. Estreito. Sufocante. Ameaçador.

Na base do quadro está o que mais zelo. Atirado, esquecido. Logo acima um fio de navalha cruza o ar, prolongando-se até o fundo da pintura. Avisando aos que ali chegam que adiante só há o que não se pode mais recuperar, nem manter.

Desapego não resolve mais. Pois o equilibrio faz que a vida, saúde e bem-estar, meu e dos outros, venham para o centro do quadro. Sustentando o peso imenso sobre a navalha cortante. Sem poder descer para catar o que esta no chão. Precisando seguir, sem direção.

Acima, tudo claro. Caminho fácil. Bastaria saber voar. Ah! como o pássaro que tranquilamente descansa com um pé no galho, marotamente sorri. Se soubesse amar, trocaria de lugar.

A penúmbra, úmida e escura, insiste em se apresentar. Ilude o olhar. Cortinas da alma, espalha dúvida no ar.

O caminho a frente é para os jovens de alma e fortes no intento. Penso triste no vento.

Livre, cumprimenta os detentos, que em casa se trancam para evitar o desgosto de morrer sem razão ao relento.

Retrato de uma Porto Alegre do século XXI: insegura, sem investimento e esquecida no tempo.

[]s
Messa

1 Comments:

Blogger Gustavo said...

Esse foi amargo e me parece que tu te entregou para o inexorável. Que é isso nêgo veio, o que vale é a luta. Parece meio auto-ajuda (como odeio isso) mas como diz a minha mãe, faz a tua parte que na pior das hipóteses tu ainda pode dormir com a satisfação do dever cumprido.

Aquele abraço.

28 de agosto de 2007 às 08:16  

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